Uma pesquisa realizada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD mostrou que o uso de drogas já traz grandes impactos à realidade das escolas brasileiras, especialmente nas regiões Sul e Sudeste. Na proporção do uso de drogas psicotrópicas entre alunos dos ensinos fundamental e médio, o álcool é a substância mais utilizada, seguidas do tabaco e da maconha.
No combate às drogas, os batistas têm se destacado pelas ações realizadas nos ambientes de educação. Há cerca de cinco anos, missionários da Convenção Batista Carioca vêm alcançando alunos das redes pública e privada com mensagens de conscientização e valores cristãos.
Atualmente, o capelão de Prevenção à Dependência Química, Jorge Sarmento, é o responsável pela pauta de prevenção ao uso de drogas da CBC. Ele, que já foi usuário, foi transformado por Cristo e comissionado para “o time do bem”. No ambiente escolar, desenvolve o Projeto Vida, através do qual desenvolve ações preventivas e, quando necessário, apoia encaminhamentos para unidades de recuperação.
Jorge, em entrevista ao Batista Carioca News, apresenta seu campo missionário e mostra que o melhor caminho é o da prevenção.
Seu passado como dependente químico influenciou sua chamada para esta capelania?
Como usuário de drogas fui sempre um influenciador. Persuadia todos ao meu redor a usarem drogas. Levei muitos a terem contato com as drogas, inclusive meu irmão e amigos próximos. Na universidade, me tornei uma referência no consumo de entorpecentes. Fui iludido e aprisionado pelo vício. Na verdade, o maior enganado nessa história sempre fui eu.
Deus tem um plano de redenção para o homem e, no meu caso, Ele me colocou no caminho contrário. Por ser um influenciador, aprendi muito sobre drogas e seus efeitos. Conheço as formas que o inimigo usa para aprisionar jovens ao vício, entendo as gírias e os costumes bem próprios dos grupos e com uma forma dinâmica de abordagem consigo ter a confiança dos jovens usuários a ponto de se abrirem comigo.
Saio das escolas com muitas demandas e crio planos de autuação para cada um que me procura. Deus tem usado a minha vida de forma maravilhosa e me alegro muito em poder fazer parte de tudo isso.
Como sua atividade tem sido recebida por estudantes e funcionários das escolas visitadas?
Os alunos passam boa parte do seu dia nas escolas e é lá que aflora a maioria dos problemas individuais trazidos de suas famílias, nos mais diversos contextos sociais. Sendo assim, professores e funcionários das escolas enxergam meu trabalho como uma possível solução a uma demanda que, a cada dia, cai mais na conta dos educadores.
Mesmo diante disso, há escolas onde a entrada como missionário é difícil. Nosso país atravessa uma luta ideológica que faz um lado inimigo do outro. Mesmo me apresentando como terapeuta, tenho minha entrada barrada por carregar a bandeira de uma instituição religiosa/cristã. Mas, como cada escola tem uma certa autonomia para lidar com seus problemas sociais, fica a cargo dos gestores a inclusão do programa de prevenção às drogas em seus Projetos Políticos-Pedagógicos (PPP).
Para os alunos, é um tempo especial. Uma oportunidade de tirarem suas dúvidas e falarem abertamente sobre seus pontos de vista. Para alguns, é um momento decisivo, pois, a partir de esclarecimentos, são tomadas decisões prudentes que mudam suas vidas.
No último ano, qual foi a média de alunos alcançados pelas palestras de prevenção à dependência química?
No ano de 2018 tive minhas atividades reduzidas devido a problemas pessoais. Após um acidente de carro, minha esposa Ellen, que estava grávida, passou a ter picos de pressão o que levou ao nascimento prematuro de nossa pequena Hellena.
Ainda assim, foram alcançadas cerca de cinco escolas, 15 igrejas e três projetos sociais. Realizei palestras para, aproximadamente, 500 alunos e treinamento para cerca de 50 líderes, bem como também foram acompanhados mais 30 pessoas que vieram como resultado dos esclarecimentos dados nos encontros com líderes e alunos.
Seu ministério foca na prevenção, mas, provavelmente, há alunos que já experimentaram drogas. É possível apoiar estes casos específicos? Como é feita essa abordagem e qual o tipo de encaminhamento dado?
Há alguns níveis de envolvimento com as drogas antes dos indivíduos se tornarem dependentes químicos. São eles: uso, abuso e dependência química. Bem como estratégias de prevenção em momentos distintos na relação do homem com as substâncias psicoativas. São elas: prevenção primária (antes do contato), prevenção secundária (no começo do contato) e a prevenção terciária (no caso de dependentes químicos em tratamento).
No caso dos alunos, quando há envolvimento com drogas, descobrimos na fase que costumo chamar de “fase poética”, que vai entre o uso e o abuso. Ou seja, eles usam drogas que geralmente são maconha, álcool e tabaco e ainda não têm um problema social tão nítido. Além disso, defendem o consumo das substâncias pois elas são socialmente aceitas. Para tal, uso estratégias de “prevenção secundária”, onde procuro desmitificar argumentos usados para amenizar o efeito social dessas drogas. Procuro em minhas abordagens transmitir confiança aos jovens e, em muitos casos, quando me permitem uma aproximação, procuro identificar os fatores de risco que têm permitido o contato com as drogas dentro do tripé “biopsicossocial” e, com a ajuda de minha esposa, que é psicóloga, e mais alguns profissionais parceiros, criamos estratégias especificas para cada caso.
Mesmo focado na prevenção, sempre aparecem casos de dependentes químicos para tratamento e acompanhamento. Essas demandas vêm através de parentes e amigos dos envolvidos e líderes das igrejas alcançadas com as palestras. Nesses casos, a principal parceira na ajuda é a Igreja Batista Monte Horebe, da qual sou membro. Através do Ministério de Evangelismo e Missões, a igreja apoia projetos de recuperação às drogas que nos abrem vagas para o tratamento. Estamos montando também um projeto de ajuda que visa acompanhar os dependentes químicos após a sua saída dos centros de tratamento.
Capacitação é uma vertente de seu ministério. Qual o conteúdo ministrado nos treinamentos e como as igrejas podem somar na luta contra as drogas?
Um dos nossos pilares é capacitar líderes e professores tornando-os capazes de multiplicar conhecimento e dar o suporte necessário para suas igrejas e escolas locais. Nos treinamentos, onde apresentamos uma visão panorâmica das drogas e seus problemas sociais, divido-os em três áreas de atuação: Prevenção, Recuperação e Codependência.
Existem várias formas de nos ajudar. As igrejas e escolas podem promover, através da Convenção Batista Carioca, um treinamento parar seus líderes e professores; podem mapear e entrar em contato com escolas oferecendo palestras de prevenção com o especialista da CBC; e também podem contribuir através do PAM para a contratação de novos missionários.